domingo, 17 de março de 2013

Christopher Doyle e a fotografia de "Life Of Pi"

Christopher Doyle, diretor de fotografia de "Amor à Flor da Pele"

Christopher Doyle tem no currículo a fotografia de alguns filmes belíssimos como “Amor à Flor da Pele”(Wong Kar Way/2000), “O Americano Tranquilo”(Phillip Noyce/2002) e “Herói”(Zhang Yimou/2002). Teve um verdadeiro ataque com o Oscar de Melhor Fotografia para Claudio Miranda por “Life Of Pi”. Perguntado sobre, caiu na gargalhada e disparou a metralhadora:

"Você quer que eu diga a verdade? kkkkkkkkkkkkk. Ok. Estou tentando pensar em como dizer isso mais educadamente e sem ofensa  - eu não o conheço pessoalmente -, mas é que seu filme é parte de uma merda total. Deixe-me ser franco. Ah, foda-se! Eu não me importo, eu tenho certeza que ele é um cara maravilhoso e tenho certeza que ele se preocupa tanto, mas uma vez que 97 por cento do filme não está sob seu controle, o que diabos você está falando fotografia? Desculpe. Sinto muito. Eu tenho que ser franco e eu não me importo, você pode escrever. Eu acho que é um insulto à fotografia, porra!”

A partir de então, entre “fodas”, “porras”, “babacas” e “merdas” desancou a Academia e seus membros que, segundo ele, não entendem absolutamente nada de fotografia de cinema e são todos uns velhos caquéticos (a Academia tem média de 62 anos e Christopher tem “apenas” 60!)

Aí fico eu pensando aqui, eu que simplesmente me apaixonei por “Life of Pi” e tenho-o como o melhor filme desta temporada. Mas... o que é cinema? E o que é cinema com o passar dos tempos? Todo o conceito técnico de cinema é questionável com a revolução digital. Até o Oscar de “Direção de Arte” para “Lincoln” tem que ser questionado porque grande parte dos cenários são ilusão digital. Mas cinema não é, e sempre foi, pura ilusão de ótica? “Um véu sobre a realidade” como bem definiu a arte o grande Oscar Wilde? Cada vez mais o cinema industrial e o cinema artesanal se distanciam, mas com o passar dos tempos, o cinema artesanal fica cada vez mais digital, mais manipulação de imagem. Eu penso que isso não tem a menor importância. O que diferencia “Life Of Pi” de “Resident Evil”, por exemplo, não é a imagem manipulada, mas o conteúdo, o espírito que se desprende da ideia e a sensibilidade da execução. Também torci um pouco o nariz com o Oscar de fotografia para “Life Of Pi”, mas a imaginação tem que ser premiada e a imaginação é que faz a arte não ser um mero espelho. Tenho que discordar, pelo menos em conceito, de Christopher Doyle.

“Isso não é fotografia. Isso é o controle da imagem pelos poderes constituídos, pelas pessoas que querem controlar todo o sistema. Isto não é um filme e não é cinema. Não é cinema.” - Christopher Doyle

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