sexta-feira, 29 de março de 2013

CELSO CURY, NEW YORK, LUCIA, FESTIVAL, O TEMPO, ETC…

Celso Cury

Ontem à noite no hall de entrada do Teatro da Reitoria, esperando pra assistir “A Marca da Água”, do Armazém, encontrei, ou melhor, fui encontrado, pelo Celso Cury. Quem é o Celso Cury? Um homem de todos os teatros. Um homem a quem o teatro brasileiro deve tanto e, principalmente, o de São Paulo. Muito da nossa cena passou e passa pelas suas mãos e pelos seus olhos. Ele continua o mesmo, mais maduro, como eu, mas vivo e belo com seus olhos de paz e arte. Ele me reconheceu depois de tantos anos. Nos conhecemos pelos caminhos da Lucia Camargo, em 1990, quando eu dirigi “New York Por Will Eisner”, para o Teatro Guaíra e ele nos ajudou a levar o espetáculo ao Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, para uma temporada de 10 dias seguidos. Éramos uns sedentos de teatro! Em nosso abraço, eu soltei "você ainda me reconhece?" E aí que ele disse uma frase que me arrepiou, daquelas que definem um jeito de pensar a vida, aconteça o que acontecer, e acontece: “Eu só tenho lembranças boas!” Que bom! Em 1991, como nosso sonho de mostrar “New York Por Will Eisner” para São Paulo, ele nos deu uma força incrível. Não teríamos ido se não fosse sua amizade e ação. Fomos com grande dificuldade (os tempos eram outros!), mas tivemos um excelente público naquele teatro imenso de 900 lugares! E, encontrando também a Lúcia Camargo, o tempo fez um rodopio e, célere e violento, pousou, irônico e engraçado à minha frente. Cá estamos todos nós, pensei, vibrando ainda pelo teatro, sonhando ainda com os sonhos dos artistas e buscando encantos e belas ideias nos palcos. O teatro é a nossa vida, disso não há a menor dúvida. E digo mais, é o que nos faz ter a certeza de que tudo quanto fazemos, fizemos e faremos não é em vão. É mais ou menos como quando nos apaixonamos por alguém. Não importa se é um bom ou um mal ator, por exemplo (se for!)... Simplesmente nos apaixonamos. E o teatro é desse jeito. Desde 1990 até aqui, quanta coisa excepcional vimos e fizemos, quanta coisa equivocada, quanta coisa boba, quanta coisa linda, quanta coisa estranha....Mas é o nosso teatro, não? O sangue que corre, bipolar, em nossas veias. Enfim... o Festival de Curitiba tem também essa virtude, fazer com que pensemos loucamente em nossa história. Eu costumo dizer que durante os 10 dias do Festival, os curitibanos (artistas e público) assumem três máscaras: a falsidade, a simpatia e a hipocrisia. Fazemos de conta que tudo é genial, queremos que todos pensem que nossa capital é o reino da cortesia, então que aplaudimos em pé qualquer espetáculo que venha de fora e hipócritas porque derramamos elogios fáceis sem sequer pensar mesmo se aquela é nossa opinião e se realmente precisamos dá-la. Mas isso é um festival, não? O momento em que entre dramas e comédias, o teatro é a grande festa em que, mesmo nas coxias somos reis e rainhas. E é também o momento de reencontrar pessoas que foram importantíssimas em nossa carreira. E olha aí eu voltando ao Celso Cury. Obrigado, amigo! E que bom encontrá-lo ontem! Um beijão! E mais uma vez, obrigado!

O meu "New York Por Will Eisner", que levamos ao Teatro Sérgio Cardoso em 1991

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