segunda-feira, 11 de março de 2013

BARBARA

Nina Hoss - uma atriz excepcional!

Unificada a Alemanha faz uma revisão do passado pré-muro de Berlim. “Adeus, Lenin!” e “A Vida dos Outros” olham para o lado oriental com desprezo, seja comédia ou drama. “A Vida dos Outros”, por exemplo, é contundente e implacável quando, de uma forma quase farsesca, pinta a polícia política com tintas grotescas. “Barbara”, de Christian Petzold é o filme da vez. No caso de “Barbara” a opinião é mais direta. O filme chama o lado oriental de “país filho da puta” sem muitas sutilezas. E eles devem ter razão porque quem viveu a história foram eles, não é? Mas “Barbara”, além da política, é um filme sobre sentimentos. Como impedir um sentimento? Como disfarçar uma opinião? Como pensar uma coisa e viver outra? Como simular a própria vida, fazendo de conta que vive outra? Bárbara, a médica vivida com um talento inigualável pela atriz Nina Hoss, é quase uma estátua de olhar único e rosto sem expressão. Ninguém, nem a plateia, sabe de onde ela veio Por que está confinada numa cidadezinha do interior? O que pensa, o que pretende, o que deseja. Não sabemos e nunca saberemos porque nem ela, nem o filme nos contam. Barbara é a cidadã perfeita para um regime autoritário. Mas nós, que acompanhamos sua solidão, sabemos que por trás de sua armadura se esconde algum tipo de alma. Barbara, como todos os cidadãos da Alemanha Oriental, é um ser humano sem saída, sequestrado em sua própria nação. Tem o que comer, tem o que vestir, tem onde morar, mas não pode pensar nem agir à sua moda. Em outras palavras, deve se satisfazer com a simples sobrevivência, como um animal domesticado. Em “Barbara” a paisagem humana é o outro personagem. Formada por seres humanos medrosos que fazem da mediocridade a única razão de viver, ela é opressora e o oposto da liberdade e da vida. E Barbara, sabemos, ali, é um peixe fora d’água. O que acontecerá? Para onde o roteiro vai nos levar? Num deserto de negações da vida, a grandeza humana, como uma flor que brota no asfalto, acaba dando as caras e dando sentido ao filme. Em qualquer época e em qualquer tempo, lutar pela liberdade de ser único é uma tarefa mítica e Barbara em seu silêncio revelador, incumbe-se desta tarefa com força de heroína. Um belíssimo e indispensável filme! Franz Kafka disse um dia que “escrever é vigiar”. Pois bem, fazer um filme também pode sê-lo porque assim como podemos dar um salto imenso para o futuro em alguns anos, a volta ao passado também é um risco, por isso é preciso estar atento! E essa é a única função desse olhar...

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