Às vezes um suave olhar para o passado renova as nossas ideias, nos dá
uma nova perspectiva para o moderno e alimenta o nosso ofício. Hoje, à tarde,
resolvi, para a pesquisa da nova peça do Grupo Delírio, assistir de novo “Jules
et Jim”, que meu diretor preferido (junto com Alfred Hitchcock) François
Truffaut, fez em 1962, seu terceiro longa, depois do choque que foi “Os Incompreendidos”
(1959) e ainda “Atirem no Pianista”(1960). Mas a revolução mesmo foi “Jules et
Jim”! E eu tive a impressão de estar assistindo a um filme que ainda nem foi
feito, de tão contemporâneo, de tão à frente de seu tempo! O que me apaixona em
Truffaut é ele ter dedicado toda uma vida de cinema a falar do amor, mas o que
me encanta em seu cinema é a suavidade, a sutileza, a fluidez das imagens, a
naturalidade das emoções e a ausência do pré-clima. As coisas simplesmente
acontecem. Não como na vida, mas como no cinema amoroso e às vezes doloroso de
François Truffaut! E eu olho para o nosso tempo, onde tudo tem que ser tão
reafirmado, tudo tem que ser tão impactante, tão esquemático ou improvisado.
Não! Em Truffaut e em “Jules et Jim” o cinema é uma brincadeira de emoções
perdidas que se reencontram em outro plano, em outra sequência. Jeanne Moureau
cantando é uma das cenas mais belas do cinema de todos os tempos. E assistindo “Jules
et Jim” eu entendi um pouco mais porque amo tanto meu terceiro diretor de
cinema: Woody Allen! Porque até hoje ele faz cinema como Truffaut fazia. Com
naturalidade...
Nenhum comentário:
Postar um comentário