Não adianta disfarçar, vivemos a cultura do medo. Medo de tudo, desde a
fome até a guerra, desde a paz até o inferno. E Thomas Vintenberg, este diretor
que eu simplesmente adoro, não tem pudores em levar até as últimas
consequências a sua opinião sobre; e para isso lança mão de efeitos melodramáticos,
sentimentais, chocantes e o que mais for preciso para fazer de seu filme “A
Caça” um grito de alerta. O nome disso é coragem. O calvário de Lucas, vivido
magistralmente por Madds Mikkelsen, após ser acusado injustamente de pedofilia,
é retratado com detalhes sórdidos, mas com algum distanciamento crítico, o que
o aproxima de um escritor importante como Franz Kafka e também de nosso
brasileiríssimo Nelson Rodrigues (O Beijo no Asfalto), mas sem comparações
porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O espectro da
histeria e da loucura insana e coletiva está latente e equilibra-se numa corda
bamba finíssima. A qualquer momento o mais dócil cidadão pode tornar-se um monstro,
simplesmente porque passa a acreditar em alguma coisa indiscutível, mesmo que
seja uma mentira! É um desses filmes que nos alertam sobre nossa sombra e
explicitam a criatura selvagem e perigosa que é o ser humano civilizado do
século XXI. Não, não é um filme sobre a desumanidade, ao contrário, é sobre a
humanidade. E quanto mais humanos reconhecermos seus personagens, vítimas ou
algozes, mais alerta ficaremos e menos confiantes em falsas ilusões de
civilização e direito. “A Caça” não é uma tese, é um drama profundo e doloroso,
cruel e desesperado. Uma obra de grande lucidez e talento. Imperdível. Já,
candidatíssimo a um dos dez melhores de 2013!
Nenhum comentário:
Postar um comentário