Pra que escrever se eu vi? Se nós vimos? Pois é, estávamos todos lá,
assistindo ESTA CRIANÇA, da Companhia Brasileira, no Guairinha, e todos
gostamos demais! E o espetáculo vem para o Festival depois de meses de absoluto
sucesso no Rio de Janeiro e quatro prêmios Shell (direção, atriz, cenografia e
iluminação) que valem mais do que qualquer adjetivo empolgado. Então que está
tudo muito bem. Graças à produtora, Cássia, eu consegui um lugar excelente para
assistir e saí do teatro recompensado e me sentindo a pessoa mais feliz do
mundo por ter tido o privilégio de assisti-lo. Eu e o público. Sim, porque
quando é que você tem a chance de ver quatro “Lalas Schneiders” em cena?
Absolutas! Indiscutíveis! Renata Sorrah, Giovana Soar, Ranieri Gonzalez e Edson
Rocha não são nada menos que perfeitos! Mas perfeito é um adjetivo tão gelado!
Então eu diria que são artisticamente perfeitos! Porque aí tudo o que a palavra
“artístico” engloba de dionisíaco, apolíneo, humano, comprometido, sensível e
inteligente, dá à performance um status de beleza que só é alcançado por obras
primas como as de um Van Gogh, ou um Checov, ou um Ingmar Bergman, ou um
Mozart, ou um Dostoiéviski, um Godard, um Truffaut, sei lá... ESTA CRIANÇA é um
espetáculo tão emblemático para o teatro brasileiro neste nosso tempo, que
deveria ser falado, estudado, refletido, e deveria influenciar nosso fazer
teatral como um dia influenciaram Ziembinski, Antunes Filho e Gerald Thomas! É
o tipo do espetáculo que transforma qualquer receita! E é tão moderno! Moderno
sim, naquele lugar que virou escola! Porque a dramaturgia (Joel Pommerat)
empurra, impiedosamente, atores e diretor além de Stanislavski, além de Brecht,
além até de Aristóteles! Só assim é possível! E ao mesmo tempo lá estão eles,
falando do humano, do demasiadamente humano, do desesperadamente humano, usando as técnicas mais
tradicionais da interpretação. Porque vemos VOZES, EMPOSTAÇÕES, GESTOS FIRMES,
ATITUDE e MOVIMENTO que nada tem a ver com a imobilidade fácil e preguiçosa,
nada tem a ver com o naturalismo blazé fajuto e raso, nada tem a ver com
afetações “artísticas” ou arrogâncias intelectuais. ESTA CRIANÇA é um espetáculo tão bem dirigido, mas tão
bem dirigido que vai além do corpo e da mente, vai além do coração e da mente,
vai além do compreensível e do incompreensível. É teatro puro! Arte pura!
Essência! Inocência e grito! Mas eu faço questão de frisar que inocência não é
ingenuidade, por isso ele não acontece à beira do abismo, mas em plena queda! E
nós, público, caímos juntos. Experimentamos o vento, a vertigem, a fobia da
altura, a velocidade, a gravidade e, finalmente, o tombo! A partir de ESTA
CRIANÇA o sentido da catarse tem que ser repensado. E ela está lá, não para
aliviar nossas dores, nem para lavar nossa alma, mas para atirar-nos no vórtice
enlouquecido e dramático das humanidades. A consciência da nossa vulgar
humanidade! A tragédia da nossa imperfeição! O pesadelo dos nossos sonhos impossíveis! Esse
teatro que o Márcio Abreu e seus atores propõem é um milagre! É o verdadeiro
encontro entre seres humanos (atores e público) para o contemporâneo. É a
salvação de nossa arte. É o caminho, a luz e a ideia. Quem quiser segui-lo vai
receber como herança o vento! Parabéns queridos amigos! Há um coro de grandes
fazedores de teatro (vivos e mortos!) exultantes neste momento! Eles não se
cansam de aplaudir e agradecer, podem ter a mais absoluta de todas as certezas!
Querido Edson, escrever aqui no blog faz com que eu me sinta um pouco ridículo. Confinado num pequeno e branco box de comentários, diante da grandeza das tuas palavras e dos teus sentimentos tão genuínos, íntegros, lúcidos, generosos, poéticos, singulares, inteligentes, sensíveis e sensuais, como você. Obrigado por tudo, desde o começo, você sabe. Um beijo e um abraço. Marcio.
ResponderExcluirPois é! só faltou dizer a felicidade que a gente sente (ou eu sinto) em ver a Rosana Stavis no "Árvores..." e depois ver o "puta" comentário de vc, Bueno. E depois mais felicidade de eu assistir essa deslumbrante Cia BrasileiraAbreuSoarGonzalezRochaMarésNairaDamasceno no Rio de Janeiro com direito a duas sessões de "Esta Criança" ,embasbacada por esse fazer teatral que me emociona tanto. Pois esta criança aqui fica ainda mais feliz de ler teu comentário! Viva a relação entre os grandes profissas da área! Obrigada, Bueno, merci Marcio!
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