quinta-feira, 18 de abril de 2013

THOMAS VINTERBERG, NELSON RODRIGUES & FRANZ KAFKA sem que um saiba do outro. Mas a humanidade é a mesma...



Não adianta disfarçar, vivemos a cultura do medo. Medo de tudo, desde a fome até a guerra, desde a paz até o inferno. E Thomas Vintenberg, este diretor que eu simplesmente adoro, não tem pudores em levar até as últimas consequências a sua opinião sobre; e para isso lança mão de efeitos melodramáticos, sentimentais, chocantes e o que mais for preciso para fazer de seu filme “A Caça” um grito de alerta. O nome disso é coragem. O calvário de Lucas, vivido magistralmente por Madds Mikkelsen, após ser acusado injustamente de pedofilia, é retratado com detalhes sórdidos, mas com algum distanciamento crítico, o que o aproxima de um escritor importante como Franz Kafka e também de nosso brasileiríssimo Nelson Rodrigues (O Beijo no Asfalto), mas sem comparações porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. O espectro da histeria e da loucura insana e coletiva está latente e equilibra-se numa corda bamba finíssima. A qualquer momento o mais dócil cidadão pode tornar-se um monstro, simplesmente porque passa a acreditar em alguma coisa indiscutível, mesmo que seja uma mentira! É um desses filmes que nos alertam sobre nossa sombra e explicitam a criatura selvagem e perigosa que é o ser humano civilizado do século XXI. Não, não é um filme sobre a desumanidade, ao contrário, é sobre a humanidade. E quanto mais humanos reconhecermos seus personagens, vítimas ou algozes, mais alerta ficaremos e menos confiantes em falsas ilusões de civilização e direito. “A Caça” não é uma tese, é um drama profundo e doloroso, cruel e desesperado. Uma obra de grande lucidez e talento. Imperdível. Já, candidatíssimo a um dos dez melhores de 2013!

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