quinta-feira, 18 de abril de 2013

O TEATRO PÓS-DRAMÁTICO... e mais algumas coisas...!

Cena de "Fábulas de La Fontaine", de Bob Wilson, que ilustra a capa da edição brasileira de "O Teatro Pós-Dramático", de Hans Thies-Lehmann


“Na arte, o mais elevado e o mais belo não são a mesma coisa.” – Hans Thies Lehmann

18 de abril – De ontem pra hoje fiz uma daquelas coisas que não fazia há pelo menos uns 10 anos: fui dormir às oito e meia da noite, apaguei total e só acordei hoje às sete e meia da manhã. Não foi um sono, foi uma viagem! Com direito a altos pesadelos onde pessoas conhecidíssimas da minha antiga intimidade migravam para o lado negro da força e eu, que adoro me passar por idiota só fiz sofrer. Tudo bem, acordei! E continuei o meu périplo de ler “Teatro Pós-Dramático”, de Hans-Thies Lehmann. É outra viagem. Dificílima! Lehmann é um poço de erudição e por vezes é preciso ler mais de vinte vezes um simples parágrafo para compreender a exatidão do seu argumento. Não, eu não estou lendo em alemão! Estou lendo em português com tradução de Pedro Süssekind, numa edição (como sempre!) primorosa da CosacNaify. É um livro maravilhoso! Provocador e sensitivo e que faz com que você questione o tempo todo, não apenas o que escreve Lehmann, mas o seu próprio teatro, suas próprias convicções, sua maneira de fazer e entender a arte. Por vezes ele te faz sentir um minúsculo quase nada, reduzindo-o ao mais inacabado entulho no fundo de um brexó miserável localizado numa rua esquecida. Mas é preciso, tenho certeza! Ainda me sobra muita alto-estima para chegar à sua página 427, a última. E eu ainda estou enroscado e me degladiando sem tréguas com a 79, no começo do capítulo sobre  “pré-histórias do teatro pós-dramático”. Vamos lá. Meu lado “não” ainda tenta entender que Lehmann considera todo o teatro feito antes de 1999, desde os gregos, passando por Shakespeare, Moliére, Checov, os modernistas, Brecht, o teatro do absurdo, e tudo o mais como “dramático”e assim, de uma virada de página, apareceu o “pós-dramático”. Então que milhares de anos de algo insistentemente dramático resolve lutar com o “pós”. David e Golias não servem como metáfora porque são dramáticos e lógicos. Mas, sigo com esse livro que faz meu cérebro ampliar-se e me dá uma real dimensão do que faço e do que vejo. Por enquanto me ajoelho diante de Lehmann, porque me faz muito bem. E do “pós” lá vou eu com o Bongiovanni para o Theatro Municipal em sua cúpula, ao ensaio de “Ça-Irá” de Roger Waters (Pink Floyd), que vai estrear dia 2 de maio. A regência é do maestro Rick Wentworth e a direção cênica de André Heller-Lopes. Mais uma aventura por um universo de música e cena. Assisti hoje a quase cinco horas de ensaio e não foram poucas as vezes em que me arrepiei e quase chorei com solistas e coro. Como é linda a música, meu Deus! Como são virtuosos esses seres que cantam com essa perfeição! E no caso de “Ça-Irá”, os solistas não apenas cantam, mas enlouquecem e são, além de tudo, atores excepcionais! Lehmann como um perverso fantasma me diz que é melhor que a ópera seja em inglês e que não tenha legendas, porque o resultado na plateia vai ser mais musical e menos literal. Acho que concordo! Mas terá legendas, claro! De lá me atiro à aventura do metrô e suas incríveis conexões e caio na Paulista, reino encantado de todo curitibano deslumbrado que chega em São Paulo. Mesmo que seja pela milionésima vez! E perto de onde um dia foi a mansão Matarazzo, um grupo de cineastas da MTV (Será?) me para e pergunta se eu gostaria de responder a uma simples pergunta: “Você é contra ou a favor do casamento gay?” E eu olho para a câmera e digo: “Sou a favor!” e o jornalista (um garoto de não mais que 24 anos!), continua, “por quê?”. E a resposta me pareceu muito simples. Pelo direito civil de escolha. Os homossexuais têm o direito de querer ou não casar, como qualquer pessoa. Afinal, do ponto de vista civil, não têm exatamente os mesmos deveres que qualquer outro cidadão? Então por que não têm os mesmos direitos? E segui em frente pensando em assistir “A Caça”, do Thomas Vinterberg, que deu o prêmio de melhor ator em Cannes para Mads Mikkelsen. Vamos ver... E enquanto não chego ao cinema fico viajando e viajando em tudo o que Lehmann, Waters, André-Heller, Luiz Bongiovanni, Vinterberg e o mundo encantado da MTV quiseram me dizer nesta quinta-feira. E onde tudo isso vai refletir em meu/nosso “Loucos de Pedra”! O quê? Mais um dia... Não é assim?

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