sábado, 20 de abril de 2013

À FLOR DA PELE...!



Diários de São Paulo – 19 de abril - “Alguma coisa sempre nos falta” é um pensamento de Caio Fernando Abreu, lembrando Adelle H. E como eu concordo em gênero e número, sempre fico pensando que não apenas na vida cotidiana, mas na arte, passamos o tempo todo tentando preencher esta lacuna. Porque como não sabemos direito o que é esta “coisa” que nos falta, o buraco acaba virando expressão, que elaborada, desemboca na arte. Talvez sim, talvez não. Mas também eu acho que isso não tem muita importância, porque o que é a arte? Em nossos tempos competitivos e tecnicistas e, mais que nunca, acadêmicos, a arte, qualquer, precisa ser esmiuçada e explicada. Tem que ser engavetada, qualificada e, se possível, enclausurada num tomo de enciclopédia virtual. Mas eu penso que a arte não acontece nem no criador e nem naquele que a frui, acontece entre eles. A arte foi e é (como será no futuro?) um acordo entre as partes. Daí que grandes obras de arte desapareceram no tempo e outras nem tanto, permanecem desafiando o tempo. Eu, trabalhando com a Mercearia de Ideias, grupo de dança do Luiz Fernando Bongiovanni e seus artistas dançarinos, aqui em São Paulo, aprendo a cada minuto os caminhos desta aventura, surpreendendo-me a cada um com descobertas impossíveis. Me diz o Bongiovanni que o filé mignon da arte acontece nos ensaios e que ao público restam as migalhas, porque a ele é oferecido o mínimo, do mínimo, do mínimo de tudo o que acontece nos ensaios. Não tenho dúvidas. Nesta sexta-feira, entre nove da manhã e quase uma da tarde, um espírito chegou-se para ensaiar com os bailarinos e, preencheu um pouco daquilo “que sempre nos falta” deu-nos uma experiência coletiva do que é impossível explicar, mas não é impossível repetir. E, não tenho dúvidas, o verdadeiro sentido da arte esteve presente. Como poucas vezes eu pude experimentar nestes meus trinta anos de teatro. Uma experiência inesquecível de emoção, suspensão, humanidade e elaboração de movimentos. Como também disse depois o Bongiovanni: “Acho que nunca vivi uma situação como a de hoje, ficou reverberando o dia todo em mim. Queria ter ido para casa ficar só e quieto digerindo... Espero que isso seja um sinal de que estamos indo num caminho bom, que estejamos nos conectando com algo verdadeiro e que possamos fazer um trabalho que fale realmente à alma das pessoas. O trabalho está vindo...” Quem duvida? Exaustos de tanto filé mignon vivido, visto e comido, todos os bailarinos deitaram-se no chão lavados de suor e a Karine olha para mim e dispara: “É este teu trabalho, né? Deixar a gente à flor da pele!” Talvez, mas acho que não sabia... Até hoje!



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