Henrique Irazoqui é o Jesus de Pier Paolo Pasolini
Robert Powell é o Jesus de Franco Zefirelli
Claro, tem gente que odeia todos e eu não lhes tiro a razão. São certezas estéticas e ideológicas. Mas se eu, que dirigi “O
Evangelho Segundo São Mateus”, uma adaptação do poema “O Oitavo Poema do Guardador de
Rebanhos”, de Fernando Pessoa + o próprio Evangelho de São Mateus, tenho minhas
opiniões bem claras, compreendo muito bem as dos outros. Sou daqueles que acham
que se Jesus não existiu, ainda bem que alguém o inventou para deixar ao mundo
palavras tão necessárias. “Ama a teu próximo como a ti mesmo” me parece ainda a
frase mais importante de todos os tempos em qualquer língua. Ela resolveria 90%
dos problemas da humanidade, mas é justamente porque a humanidade não consegue
vivê-la que ela é tão importante. E a história em si, do nascimento à ressurreição
foi escrita por acúmulos de gente muito poética e inteligente. Gilberto Braga
tem mágoa porque ela contém todos os ingredientes de folhetim e melodrama.
Infalível! O cinema esmerou-se e alguns filmes marcaram nossa imaginação. Sou
suspeito, então que não posso negar o meu preferido: “O Evangelho Segundo São
Mateus”, de Pier Paolo Pasolini (1964), que, parece, ele o fez em homenagem ao
Papa João 23. Toda a trajetória humanista e comunista de Pasolini está nesse
filme lindíssimo e seu Jesus, interpretado por Henrique Irazoqui, é
sublime. E depois dele, talvez o mais
católico, o mais cafona, o mais bonito, o mais quadrado: “Jesus de Nazaré”
(1977), do Franco Zefirelli. É um filme emocionante que levou a história à
dimensão do cinema clássico e sentimental italiano (embora a produção não
seja, só seu diretor!) e em terceiro lugar o mais revolucionário: das mãos do
gênio Martin Scorsese e da obra-prima de outro gênio, o escritor grego Nikos
Kazatzakis, nasceu “A Última Tentação de Cristo” (1988), um filme
indispensável. Como Fernando Pessoa em seu oitavo poema, Kazantzakis inventou o
seu Cristo e não deixou por menos, deu-lhe dimensão de arte, aquela que não é
espelho, mas véu.
Willem Dafoe é o Jesus de Martin Scorsese
Para fechar o post, a última estrofe de Fernando Pessoa, que define
tudo, inclusive a arte:
Está é a
história do meu Menino Jesus.
E por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
E por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?
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