Christopher Doyle, diretor de fotografia de "Amor à Flor da Pele"
Christopher Doyle tem no currículo a fotografia de alguns filmes
belíssimos como “Amor à Flor da Pele”(Wong Kar Way/2000), “O Americano
Tranquilo”(Phillip Noyce/2002) e “Herói”(Zhang Yimou/2002). Teve um verdadeiro
ataque com o Oscar de Melhor Fotografia para Claudio Miranda por “Life Of Pi”. Perguntado
sobre, caiu na gargalhada e disparou a metralhadora:
"Você quer
que eu diga a verdade? kkkkkkkkkkkkk. Ok. Estou tentando pensar em como dizer
isso mais educadamente e sem ofensa - eu
não o conheço pessoalmente -, mas é que seu filme é parte de uma merda total. Deixe-me
ser franco. Ah, foda-se! Eu não me importo, eu tenho certeza que ele é um cara
maravilhoso e tenho certeza que ele se preocupa tanto, mas uma vez que 97 por
cento do filme não está sob seu controle, o que diabos você está falando fotografia?
Desculpe. Sinto muito. Eu tenho que ser franco e eu não me importo, você pode
escrever. Eu acho que é um insulto à fotografia, porra!”
A partir de então, entre “fodas”, “porras”, “babacas” e “merdas”
desancou a Academia e seus membros que, segundo ele, não entendem absolutamente
nada de fotografia de cinema e são todos uns velhos caquéticos (a Academia tem
média de 62 anos e Christopher tem “apenas” 60!)
Aí fico eu pensando aqui, eu que simplesmente me apaixonei por “Life of
Pi” e tenho-o como o melhor filme desta temporada. Mas... o que é cinema? E o
que é cinema com o passar dos tempos? Todo o conceito técnico de cinema é
questionável com a revolução digital. Até o Oscar de “Direção de Arte” para “Lincoln”
tem que ser questionado porque grande parte dos cenários são ilusão digital.
Mas cinema não é, e sempre foi, pura ilusão de ótica? “Um véu sobre a realidade”
como bem definiu a arte o grande Oscar Wilde? Cada vez mais o cinema industrial
e o cinema artesanal se distanciam, mas com o passar dos tempos, o cinema
artesanal fica cada vez mais digital, mais manipulação de imagem. Eu penso que
isso não tem a menor importância. O que diferencia “Life Of Pi” de “Resident
Evil”, por exemplo, não é a imagem manipulada, mas o conteúdo, o espírito que
se desprende da ideia e a sensibilidade da execução. Também torci um pouco o
nariz com o Oscar de fotografia para “Life Of Pi”, mas a imaginação tem que ser
premiada e a imaginação é que faz a arte não ser um mero espelho. Tenho que
discordar, pelo menos em conceito, de Christopher Doyle.
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