Nina Hoss - uma atriz excepcional!
Unificada a Alemanha faz uma revisão do passado pré-muro de Berlim.
“Adeus, Lenin!” e “A Vida dos Outros” olham para o lado oriental com desprezo,
seja comédia ou drama. “A Vida dos Outros”, por exemplo, é contundente e
implacável quando, de uma forma quase farsesca, pinta a polícia política com
tintas grotescas. “Barbara”, de Christian Petzold é o filme da vez. No caso de
“Barbara” a opinião é mais direta. O filme chama o lado oriental de “país filho
da puta” sem muitas sutilezas. E eles devem ter razão porque quem viveu a
história foram eles, não é? Mas “Barbara”, além da política, é um filme sobre
sentimentos. Como impedir um sentimento? Como disfarçar uma opinião? Como
pensar uma coisa e viver outra? Como simular a própria vida, fazendo de conta
que vive outra? Bárbara, a médica vivida com um talento inigualável pela atriz
Nina Hoss, é quase uma estátua de olhar único e rosto sem expressão. Ninguém,
nem a plateia, sabe de onde ela veio Por que está confinada numa cidadezinha do
interior? O que pensa, o que pretende, o que deseja. Não sabemos e nunca
saberemos porque nem ela, nem o filme nos contam. Barbara é a cidadã perfeita
para um regime autoritário. Mas nós, que acompanhamos sua solidão, sabemos que
por trás de sua armadura se esconde algum tipo de alma. Barbara, como todos os
cidadãos da Alemanha Oriental, é um ser humano sem saída, sequestrado em sua
própria nação. Tem o que comer, tem o que vestir, tem onde morar, mas não pode
pensar nem agir à sua moda. Em outras palavras, deve se satisfazer com a
simples sobrevivência, como um animal domesticado. Em “Barbara” a paisagem humana
é o outro personagem. Formada por seres humanos medrosos que fazem da
mediocridade a única razão de viver, ela é opressora e o oposto da liberdade e
da vida. E Barbara, sabemos, ali, é um peixe fora d’água. O que acontecerá?
Para onde o roteiro vai nos levar? Num deserto de negações da vida, a grandeza
humana, como uma flor que brota no asfalto, acaba dando as caras e dando
sentido ao filme. Em qualquer época e em qualquer tempo, lutar pela liberdade
de ser único é uma tarefa mítica e Barbara em seu silêncio revelador,
incumbe-se desta tarefa com força de heroína. Um belíssimo e indispensável
filme! Franz Kafka disse um dia que “escrever é vigiar”. Pois bem, fazer um
filme também pode sê-lo porque assim como podemos dar um salto imenso para o
futuro em alguns anos, a volta ao passado também é um risco, por isso é preciso
estar atento! E essa é a única função desse olhar...
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