Um dia, num debate depois da apresentação de “O Evangelho Segundo São
Mateus”, acho que no Espírito Santo, a Regina Bastos disse que eu estava de bem
com a vida quando escrevi esse texto. Que era meu lado iluminado. E eu fiquei
muito orgulhoso. Estávamos viajando pelo Brasil e eu carregava embaixo do braço
uma coletânea de “Pequenas Epifanias” do Caio Fernando Abreu. Tinha que
escrever um texto para um monólogo interpretado pelo meu amigo e “puta ator”
Marcio Meneghell. Não queria adaptar um conto, não queria reafirmar a persona
desgraçadamente sofrida e underground do Caio. Sei lá o que queria! Mas aquelas
crônicas, lidas e relidas, iam grudando na minha pele e sem perceber eu ia
respirando o cara. Tinha dias que falava coisas pelas palavras dele, que
argumentava sobre a vida usando o Caio sem sequer pedir permissão. E foi tanto
Caio Fernando Abreu dia a dia, que quando sentei pra escrever “O Homem Que
Acreditava”, tudo fluiu de uma maneira que até me assustou! Juro, é um texto de
puro amor! Não é só uma homenagem a esse escritor mítico e que exaltou a paixão
e a entrega ao outro; mas um ato de amor incontrolável! E é aí que eu volto ao
que a Regina disse no debate em Vitória. Caio me deixou de bem com a vida e com
as palavras. E por isso eu amo tanto este espetáculo que ensaiei com o Marcio e
que ele foi inventando, como ator, cuidadosamente, numa elaboração de
personagem que mais pareceu espiritismo! E é tão gratificante servir de ponte
entre um artista tão intenso como Caio Fernando Abreu e uma plateia que pede
atos de amor no palco. O Marcio é tão danado que tem a medida certa deste amor.
E aqui e ali acrescenta o medo, a fúria, a indignação, a dor e a paixão. E então
que nasce uma das minhas peças mais emocionantes, porque ao dirigi-la deixei
que o Caio falasse por si só e que o Marcio fizesse o mesmo. Hoje “O Homem Que
Acreditava”estreia no Festival de Curitiba, às 21 horas no Mini Auditório. Que
orgulho tenho de tudo isso! Tenho a mais profunda certeza de que o público que
lá estiver, vai viver uma noite de paixão e emoção e vai sair do teatro
correndo pra ler tudo que puder desse extraordinário ser humano que foi Caio
Fernando Abreu! Vamos ao teatro mais e mais e mais e mais...!
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