O grande Marino Junior fez uma inteligente reflexão do momento, que reproduzo aqui e com a qual concordo em gênero e número.
MARINO JÚNIOR
Tenho ficado impressionado com
a movimentação nas pré-conferências setoriais em que estive. Creio que o que
estamos vendo acontecer trata-se de um fenômeno global de acesso maior aos
meios de comunicação e de informação. O que motiva muita gente a despertar o
artista dentro de si. Se pensarmos os virais na internet e a capacidade maior
de se produzir, distribuir e consumir cultura na rede, é possível perceber que
as plataformas digitais estão levando milhares de pessoas a desejarem uma
experiência artística, criadora. Basta observar a quantidade de artistas que
vêm surgindo nos últimos anos e que à criação de novos grupos e tendências. Algo
que, certamente, entra em conflito com o tradicional. Mas o fato não é novo.
Nos anos 80, em Curitiba, havia uma grande concentração por parte do estado na
cultura. Então, vários grupos oriundos do CPT deram início a um fazer teatral
independente. O que levou muita gente a fazer teatro. Nos anos 90, quando a Lei
de Incentivo foi criada, em parte pressionada pela onda anterior, surgiram
novos grupos. Além disso, teatros independentes foram abertos, o setor se
desenvolveu e cresceu levando mais gente ao fazer teatral. Foi uma segunda
onda, na qual parte da responsabilidade foi em razão do investimento feito, mas
ocorreu, principalmente, em razão da primeira onda. Saía-se de uma dependência,
antes estatal para algo mais livre. Vivemos, no presente, uma terceira onda.
Mais forte, mais diversificada, e muito informada. Influenciada, no meu modo de
ver, em parte pelas ondas anteriores e em parte por um fenômeno global de
acesso aos meios de produção e uma maior informação. E isso é ótimo. Mas tem um
lado perigoso. A pulverização dos recursos poderá tornar o setor insustentável.
A falência de um mercado sedento pela criação e apático ao consumo afetará
também os produtos culturais com um viés econômico. Além disso, as novas linguagens que entrarão nesta
“reforma agrária da cultura”, contribuirão para um cenário ainda maior de
escassez. O futuro é incerto. Para
todos. Os tradicionais, os novos e aqueles que ainda virão. – Marino Junior
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